junho 15, 2011

transFORMação


Vivo num mundo que não é o lá, nem o cá, muito menos, o aqui, e nem desconsideraria o complexo intermediário, porque já entrei em tangentes de círculos infinitos, só pra quebrar tudo que era inquebrável e perder tudo que era meu, ou ter.

Vivi a morte várias vezes para ter certeza que há sempre um caminho de volta, que se quebra de novo em novos círculos e molda novos caminhos. E o que resta nessa volta, é o que se perfaz das voltas, a memória, dados agrupados ou segmentados que constroem novos sistemas de círculos infinitos, para minhas próximas necessárias tangentes, que como um TOC, alimenta minha vontade de ter vontade, e faz da minha inconstância o esforço da constância.

Nessa sombra da constante inconstância, a transformação se faz necessária e toca feridas com álcool e água, arrancando todo podre exagerado da reconstrução, discutindo enquanto cospe na cara combinações férteis e irrigadas de salivas e palavras próprias, tocando coisas com coisas que não queríamos nem mexer, desfazendo de fatos que nem sabíamos existir, ir...

Porque há sempre um momento de espera, de pausa, onde se mata os glóbulos, módulos nódulos, e cura as feridas, uma pausa solitária e reflexiva, tensa, sobre-humana, necessária e carnal. Tudo está em movimento, nosso corpo vibra entre dor e fortalezas, como membranas segmentadoras e intransponíveis, e nós estamos parados, livres da corda de nylon, contidos, sem depender da nossa necessidade motriz, da troca, numa utópica e solitária liberdade, e não há ninguém a quem devemos provar que somos livres, ninguém que possa validar nossa liberdade, nem existimos para parecer real, implodidos em nossa própria órbita e sucumbindo em nossa energia. Mas é assim que a cada nova explosão uma implosão se adianta, engolindo tudo e reciclando ao nível significativo da experiência, que nunca mais vai ser primário, mesmo que simples, uma ilusão de fluidez.

A gestação é cruel e criativa, mas, principalmente, esperançosa, nos faz acreditar que no nada se faz o novo, da renovação e da limpeza vem a vontade centrípeta que cria um equilíbrio entre corpo e mente, o centro do eu é recomposto e se recriam caminhos fluidos, rápidos e de fácil comunicação, nesse egocentrismo, uma cintura com cintos tão moldáveis, que se gera uma nova órbita, a energia colhida do universo ou de nós, que já não se faz nítida suas essências, mas, agora, todas são parte de um todo da vontade latente e expansiva, que abre espaços onde não se cabia, e renasce do novo. Um novo circular que nos faz perceber que no nada nunca existiu o vazio.

E é no nada que a persistência da memória reside e aterroriza, e, é nela que crescem os dados soltos e renegados, traumatizados, que não conseguem se conectar no nosso todo objetivo e marca a pele com cicatrizes e veias de comunicação forçada, enxugando a carne e transparecendo o enrugar da pele. Desequilibrando a vida e os fluidos em si, que acorda nosso sistema de defesa, numa raiva de quem quer atacar, de um bicho machucado, angustiado e aterrorizado, que viu cicatrizar seu viço perfeito e voyer de membrana do sistema. E como radicais livres, como vírus, fortalecem organismos e dados soltos, que se recombinam para achar fortalezas, defesas em estruturadas dominadas, absorvidas, devoradas.

É desses dados renegados, memórias resistentes, que se constroem novos sistemas na viscosidade e na perfeição da visão do outro, recombinando e ativando sistemas de alerta e fuga a cada desmoronar do império num canibalismo tribal, em que o sagrado e o perfeito encantam e apaixonam nosso corpo pronto, pronto! Agora o corpo se acha pronto para morrer porque seu prazer grita o renascer, uma nova explosão, rendição, recombinante, nunca mais rebelde, pois segue como fruição não mais como objetivo.

E como um signo feminino, preferi não exercer técnicas, contudo marco a vida por passagens, túneis e travessias, escavo o dentro, teço redes e recombino pontos, marcando a vida pra transformar, escolho fertilizar, isso me faz mutável e múltipla, tantas vezes múltipla, que se torna solidão. Pois tudo não pode coexistir sem explosões e colisões que recriam fugas para a eterna dança entre a forma e a ação, de volta a transformação.